Fungo isolado da Amazônia é utilizado em plataforma de produção de enzimas degradantes da biomassa para reduzir o custo e viabilizar a produção do etanol de segunda geração. Pesquisa rendeu o “Prêmio Capes de Tese 2016” na área de biotecnologia à especialista em bioprocessos do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), Priscila Delabona. A tese de doutorado “Produção de glicosil hidrolases por Thichoderma harzianum para o processo de sacarificação da biomassa a vegetal” foi defendida em março de 2015, sob orientação do pesquisador do CTBE, José Geraldo da Cruz Pradella, e da pesquisadora da Embrapa Instrumentação, Cristiane Sanches Farinas, do programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Atualmente, o Brasil não possui nenhuma empresa que produz enzimas degradantes da biomassa vegetal para a geração de etanol de segunda geração, o que faz com que essas enzimas precisem ser importadas, elevando o custo da produção do combustível, além disso essas enzimas não possuem especificidade para hidrolisar com eficiência bagaço e palha de cana-de-açúcar, o material usado para produção de etanol de segunda geração (2G) no Brasil. Segundo Priscila, é fundamental o conhecimento dos diferentes parâmetros operacionais do processo fermentativo de produção enzimática, aliado ao estudo das técnicas de melhoramento genético do micro-organismo para a viabilizar a produção em larga escala das enzimas específicas responsáveis por sacarificar o bagaço de cana, que atualmente representam 30% do custo global do processo de produção de etanol 2G.
A tese da especialista apresenta uma estratégia para otimizar o processo de fermentação afim de reduzir parte desse custo. Foi realizado o melhoramento do processo de fermentação, avaliando os efeitos de diferentes indutores (tipos de bagaço de cana, farelo de trigo, farelo de soja e sacarose) no meio de cultura, a influência do pH, avaliação de ferramentas estatísticas de planejamento de experimentos para composição do meio de cultura e estratégias de aumento de biomassa na fase de pré-inóculo. Ainda foi realizado o melhoramento genético da linhagem para elevar a produção enzimática.
Os estudos de melhoramento genético foram realizados na Universidade Tecnológica de Viena, na Áustria, em um período de doutorado sanduíche da especialista. “Lá eu tive a oportunidade de aprender técnicas avançadas de biologia molecular para desenvolver geneticamente o fungo, aumentando a expressão de indutores enzimáticos induzindo-o a aumentar a produção das principais enzimas responsáveis pela degradação da biomassa”, explicou Priscila. As enzimas produzidas hidrolisam o bagaço de cana, produzindo açúcares fermentescíveis para serem utilizados na fermentação alcoólica. As enzimas que degradam a biomassa são produzidas por micro-organismos, como bactérias e fungos. Na plataforma desenvolvida, esse micro-organismo é o fungo Trichoderma harzianum P49P11, isolado na Floresta Amazônica, no projeto de mestrado da especialista em parceria com a Embrapa Instrumentação e a Embrapa Amazônia Oriental.
O resultado do Prêmio foi publicado no Diário Oficial da União de 10 de outubro de 2016: http://capes.gov.br/SECOL/PortariaOutorgaPCT2016.pdf
Para ler a tese na íntegra, acesse: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/279/6663.pdf?sequence=1&isAllowed=y
A especialista Priscila Delabona, ao lado de um biorreator, equipamento utilizado na pesquisa que rendeu o Prêmio Capes de Tese 2016