Dados do setor revelam a produção de 20,2 terawatts/hora de energia por ano pelas usinas de álcool e açúcar, mas especialistas estimam que o volume pode ser ampliado em sete vezes. Para isso, pesquisadores do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol buscam identificar e solucionar problemas dentro do projeto Sucre, que tem investimento previsto de US$ 67,5 milhões em cinco anos. Para pesquisador, faltam metodologia e procedimentos.
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), estão desenvolvendo um projeto para ampliar a produção de energia elétrica a partir da palha da cana-de-açúcar recolhida durante a colheita da cana sem queima, o que significa baixa emissão de gases de efeito estufa.
Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) revelam a geração de 20,2 terawatts-hora de energia por ano, em média, sendo que aproximadamente metade desse volume é consumida pelas usinas e a outra metade é exportada para o sistema elétrico brasileiro. Especialistas estimam, no entanto, que é possível aumentar essa produção em sete vezes. Para isso, pesquisadores trabalham na identificação e na solução dos problemas que dificultam a geração de eletricidade pelas usinas de forma plena e sistemática.
Energia produzida a partir da palha da cana-de-açúcar pode ser ampliada em sete vezes
“As usinas tentam há 20 anos usar a palha, mas com pouco êxito. Sua subutilização deve-se à falta de metodologia e procedimentos”, revelou o pesquisador Manoel Regis, do CTBE, que coordena o projeto Sucre.
Financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente e gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o projeto Sugarcane Renewable Electricity (Sucre) começou em 2015 com um investimento de US$ 67, 5 milhões durante os cinco anos de duração. Segundo Regis, o objetivo é identificar as barreiras que estão dificultando o uso da palha nas usinas. Na primeira etapa, o Sucre está mapeando quatro usinas parceiras, que utilizam palha na geração de eletricidade, para desenvolver as soluções que ampliem a geração de energia, como estudo de viabilidade para o investimento de coleta e processamento da palha de cana. Na segunda fase do projeto será feita a análise de viabilidade técnico-econômica em mais sete usinas selecionadas.
Para realizar as avaliações necessárias, o Sucre atua em quatro frentes de trabalho: remoção (definir quanto de palha pode ser retirada do solo sem comprometer a qualidade e a produtividade de cana-de-açúcar), recolhimento (identificar os processos de coleta e transporte da palha à indústria), indústria (avaliação do efeito da palha e da mistura de bagaço e palha nos diferentes tipos de processamento, como no sistema de limpeza a seco, no peneiramento e trituração, além do uso nas caldeiras das usinas) e integração (etapa em que serão feitas avaliações econômicas e ambientais de diferentes rotas de recolhimento de palha, além da produção de manuais e guias de boas práticas).
De acordo com o pesquisador do CTBE, laboatório que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, no primeiro semestre deste ano, será feito um estudo das principais barreiras regulatórias do setor elétrico brasileiro para propor políticas públicas para o aproveitamento da palha da cana.