Alternativas para a produção de energia são pontos centrais na pauta de nações atentas aos efeitos nocivos do aquecimento global. É por isso que representantes se reúnem regularmente em convenções dedicadas a definir melhores práticas no combate às emissões originadas pela queima de combustíveis fósseis, principal causa da elevação da temperatura no planeta.
Neste cenário se destacam os biocombustíveis, alternativas à matriz energética convencional e que colaboram para, ao mesmo tempo, frear os danos ao meio-ambiente e garantir a autossuficiência energética. “Esses combustíveis são renováveis e acarretam um baixo teor de poluição, visto que sua produção se dá de forma mais limpa”, explica a Rosana Di Giorgio, gestora de inovação do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e autora da tese “Estabelecimento de parcerias entre instituições de pesquisa e indústrias em projetos de alto risco: o caso do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol”.
O estudo, defendido na área de Planejamento de Sistemas Energéticos, na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (FEM/UNICAMP) propõe eliminar os obstáculos que prejudicam a efetivação de parcerias de sucesso entre a indústria e as ICTs (Instituições Científicas e Tecnológicas).
“Para atrair o parceiro industrial”, explica Di Giorgio, “o CTBE se preocupou em determinar regras claras para o relacionamento do Laboratório com a indústria, que proporcionassem aos parceiros segurança e atendimento de seus interesses, além, naturalmente, dos interesses do CTBE”, analisa.
Aproximação entre indústria e ICTs contribui para inovação, defende pesquisadora (Foto: Divulgação CTBE)
A principal contribuição do estudo da pesquisadora é o levantamento de dezenove pontos-chave que devem nortear as estratégias de relacionamento entre instituições de pesquisa e a indústria. “No meu estudo faço a demonstração da aplicação destes pontos em dois casos práticos de transferência de tecnologias entre o CTBE e indústrias atuantes no setor sucroenergético brasileiro”, explica, acrescentando que o protocolo apresentado aplica-se a qualquer ICT, pública ou privada, localizada no Brasil ou no exterior e atuante em qualquer setor tecnológico e não apenas o sucroenergético.
Para Di Giorgio, a criação de centros de pesquisa e os aportes de recursos para pesquisa e desenvolvimento (P&D) são insuficientes para promover a inovação. “Acredito que, para que os resultados das atividades de P&D cheguem à população, na forma de produtos e serviços, é fundamental a existência de uma estratégia de relacionamento entre ICTs e a indústria”, avalia.
Entendendo o biocombustível: etanol 1G e 2G
Uma das linhas de atuação do CTBE e da pesquisadora é a produção do etanol 2G (de segunda geração), um combustível que pode ser obtido a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, subprodutos gerados tanto a partir da produção do etanol 1G (primeira geração) quanto da própria produção de açúcar.
O grande trunfo do etanol 2G está na sua capacidade de não competir com a produção de alimentos e de promover uma espécie de “reciclagem” aos compostos gerados. “O próprio processo de obtenção do etanol gera esses resíduos [bagaço e palha]. Aproveitar esses subprodutos para a produção de biocombustível ou intermediários químicos é benéfico para o setor, conta.
No Brasil, a adoção de práticas produtivas de etanol 2G são favoráveis, uma vez que a matéria-prima, como o bagaço e a palha da cana, já estão disponíveis na planta convencional de primeira geração. O estudo da pesquisadora reconhece que o país possui o maior parque instalado do mundo de usinas de primeira geração e que a integração de planta de 2G com a usina de 1G é a forma de se obter etanol 2G com os melhores ganhos econômicos.
“Despertar o interesse da indústria para ingressar em uma parceria visando o desenvolvimento de tecnologias de alto risco, no entanto, não é simples”, constata. É justamente por isso que a pesquisadora defende, em sua tese, ser fundamental a criação de uma estratégia de relacionamento entre pesquisas ICTs e a indústria. “O parceiro industrial precisa ter a segurança de que recuperará os investimentos feitos em P, D&I e que os ganhos deverão compensar o risco assumido”, conclui.
Acredito na tese da Dra Di Giorgio. Realmente a indústria, principalmente a nacional, deveria apoiar mais a pesquisa e criar uma relação de mão dupla com os ICTs. A indústria ganha tecnologia, produtividade, competitividade e evolução da equipe. O ICT ganha experiência, realiza novos progressos técnicos e econômicos para a sociedade, desenvolvedora mais mentes brilhantes e conhecimento.